26/06/2009

Sarrão de borrego

Um sarrão de borrego a pender das costas.
Pastor de ovelhas e mil pensamentos.
Pastoreia o rebanho descendo as encostas
E guardas do mundo os teus sentimentos.

As rugas do sol, vincam no teu rosto,
Sinais dos trabalhos passados na vida.
Cansaço aparente, o dia já posto,
Trazem do poente o final da lida.

Olhos sentinelas sempre acostumados,

O dia que finda, te apressa os passos,
Fazendo o rebanho correr nervoso.
Rodeia o olival, gritas ás ovelhas,
pedradas certeiras evitam que entrem.

Os cães vão ladrando rodeando o caminho
Levando o rebanho inteiro prá corte.

Chegas no curral, já veio a patroa,
Ajuda na ordenha, enquanto conversas.
Falas do teu dia, das coisas caseiras,
Dos filhos na escola, trabalhos canseiras.

A ordenha vai rápido, em ritmo apressado,
Pela fome e cansaço do dia vencido.
Voltam com as cântaras, de leite ainda quente.
Com passo apressado a caminho de casa.
Encontram na rua vizinhos, parentes,
Dão-lhes boas noites, e seguem andando.

Os filhos inda brincam ao pião lá na praça.
Chamam o mais velho pra que traga os irmãos.
Reclama o pirralho sem querer terminar.
A mãe sem rodeios o chama que venham,
E já entra em casa, sem deixar retrucar.

Na lareira a panela já ferve á espera,
Com caldo de vazas e carne de cerdo.
Sentam-se nos bancos, a roda do fogo,
Esquentam os corpos do frio da rua,
A olhar com fome a panela no lume

A mãe vai servindo a todos com pressa
Malgas fumegam nas mãos dos miúdos.
Comida e bençãos de um lar, aconchego,
Perfuma de sopa pela cozinha inteira,
A alma de todos sossega por fim.
Depois de estarem fartos a mãe se aconchega
Senta-se por fim para comer também.

Escutam os filhos falarem das rodas
De pião e do fito no pátio da escola.
Riem dos trejeitos do mais novo a contar
As artes e fugas no recreio a brincar.

A noite já cresce no serão da aldeia
Rezam as trindades ao bater dos sinos.
Os chupões calaram nas brasas cinzentas.
Vão todos á cama na noite .
Dormem sossegados o sono dos justos.
Vida que se revive, simples, a.

Os galos já cantam o raiar da aurora
Recomeçam vidas, ricas de alegria.
Trabalham pela vida, a vida e mais nada,
Vidas de trabalho pra educar os filhos.
Filhos que um dia de lá vão partir
Querem ser doutores lá na capital.

A aldeia chora, já não há rebanhos
As portas fechadas não dão mais boa noite.
O silencio enche as ruas de nada
De um vazio amargo, solitário e mudo.

Sentam-se na porta á espera dos netos
Que chegam e partem como as andorinhas.
Lembram-se dos filhos quando ainda crianças
Brincando por perto quanta alegria.

Enche-lhes o ser uma dor sentida
Lembranças, saudades, contidas no peito
dos tempos que foram dos dias de outrora da aldeia viva.
Dos putos na escola quanta confusão

Olham um pro outro e falam do tempo
Do vento seeiro, culpam a estação.
E o outono chega, da vida e do tempo
A vida que parte pra sempre alem

Que descanse em paz nossa gente boa
Gente de trabalho de verdade e vida
Gente Trasmontana, raça destemida.

Saibam os mais novos trazer-lhe a vida
A esta região tão nobre e valente
Terra do Tua do Sabor e Douro
Terra deste povo, nosso berço, nossa gente.

Albano Solheira
fotos do norte 100
Foto: Artur Claro

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...