15/10/2008

Sede de fragas e montes

 

Foto: Abilio Freitas

O dia cresce inteiro, sai o sol, nas fragas daquele monte.
Alcanço á vista, o povo inteiro, aqui do cimo da solheira.

Meu ser caminha apressado nas ruas, em pensamento.
Rodo caminhos, lameiros, fontes, rios e ribeiros.
Capela da vila velha, pombinhas, retorta a veiga,
Campos lavouras e hortas, procissões e romarias.
Ribeira de cavalos, fechos, águas, nascente da pipa.
Mato a sede que fica me secando na saudade.

Minhas lembranças olhares,
Reviver dos dias, naqueles lugares.
Daquele menino, sonhador, aventureiro.
Revejo tudo em silencio do outro lado do mundo,
De um outro lado de mim.

Pergunto a mim mesmo quem sou?
O que quero, o que procuro?
Respondo olhando o passado e pensando no presente.

Vejo meu povo, dias, horas, minha gente.
Sei que sou o que sou, em parte, por ter vivido ali um dia.

Mas este sou eu.
Não mais sou o que fui e vivi.
Sou assim: Nascido, em crescimento!
Pouco ficou do que fui.
Muitas e boas lembranças.
Com nove anos parti, para ser sacerdote, salvar, o mundo,
Quiseram me ensinar, a pregar,
A fé sem questionar.

Mudei de vocação!!!!
Fui ser feliz, fui viver.

Eu questiono tudo,
busco o tempo inteiro.

Peregrino errante,
Leio, releio e repenso.
Certezas eu tive e tenho,
De que não sei de coisa alguma.
Sei agora, não sei depois,
Ou até, talvez até nem descubra.
Mas será que me importa saber?
A coisa é toda ela inteira,
Uma questão filosófica,
Feita de muita palavra,
Pensamento, cegueira,
nada é feito para sempre.
Viva, lá muitas vezes,
quem sabe viver,
mudando a cada dia.

Volto a olhar a ribeira
corre por ela meu pensamento.
Deixo a água me levar sem rumo, sem leito,
pelas pombinhas ao rio Sabor desagua no Douro
E de lá, mar a fora, para o mundo.

Albano Solheira

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