Perco o olhar a seguir os sulcos.
Imagino o lavrador
Indo e voltando, vezes sem fim.
Vida simples, arar a terra...
Feliz quem sabe viver assim:
Atento aos sinais dos tempos
Lendo as estações e os ciclos,
Cumprindo a roda da vida.
Lavrar, plantar, colher.
Ingênuo, fico a imaginar
Que tua vida é um mar de paz
Como se a vida simples de alguém
Fosse desprovida de complexidade.
Volto a olhar os sulcos
Imagino teus olhos na charrua
Pondo a esperança na terra
Indo e voltando de novo
Nesse trabalho infinito.
Lembro que a terra e o tempo
Não tem ciclos perfeitos
As estações e os dias
São incertos, como a vida.
Caio em mim, ao te dar uma alma
Imagino que em ti as incertezas da vida
São as mesmas que eu tenho.
Vejo os sulcos semeados,
Entendo então,
Que tua angustia e apreensão
São fruto do provir, do que pode acontecer, ou não.
Este campo verdejante ainda arado
Deixa meu ser ali espantado
Por ter visto da simplicidade
Caminho simples ingênua felicidade.
Mania de ver as aparências
De não querer olhar mais longe
Em profundidade.
Albano Solheira
Foto: Artur Claro
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